A fase abstrata – Quando nada mais se salva.
Como eu vim parar aqui? Nessa fase criativa atual, onde as formas já não são bem definidas e os símbolos são agora de significados nada óbvios?
O Luto. Foi ele quem me guiou até aqui desde meados de 2023.
Meu avô materno, sempre foi uma figura forte e extremamente significativa em minha vida desde a infância… Era um homem de pouquíssimas e assertivas palavras, me ensinou seu afeto através de gestos e atitudes, presença e estilo de vida honrado, trabalhador, curioso e frugal. A sua história de vida, como a de tantos imigrantes japoneses no Brasil, durante e após a segunda guerra mundial, certamente daria um livro.
O silêncio dele à respeito de diversas coisas, estranhamente só enalteceu mais ainda os seus valores de vida. Das muitas lições que ele me deixou, a maior delas, sem sombra de dúvidas, foi de que os maiores sentimentos não se exprimem de maneira verbal ou óbvia.
O meu desespero e dor ao contemplar sua partida, deixou-me muda e inanimada por meses, o bloqueio criativo das linguagens que eu antes praticava foi inevitável: nada mais ficava bom, nada mais expressava coisa nenhuma, tudo vazio.
Foi assim que numa madrugada, na altura em que ele ainda estava hospitalizado, que eu descarreguei meu desespero, saudade e lágrimas num papel, com formas e pinceladas aglomeradas aleatoriamente apenas para desabafar do caos e do meu despreparo diante da doença e da perda.
Nada nessa vida me poderia ter preparado para isto. Não há meios de racionalizar tanta dor e só a arte poderia vir em meu socorro.
Nada nos pode preparar para perder quem amamos.